SHARITHA

 
registro: 14/07/2008
NAO tenho paciência pra mimimi ,nem tempo pra bla...bla...bla..DESCULPE-ME....????
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77 dias h

TUDO QUE SEI SOBRE A VIDA APRENDI COM MEU CACHORRO.


Há cerca de 8 anos, eu ganhei de um dos meus melhores amigos um presente que mudou a minha vida. Assim veio a Maya, de roupinha rosa, carinha de pidona e andado torto.

Obviamente, minha mãe foi a primeira a vetar, maldizer, implicar com ela. Mas nós persistimos; eu com minha prepotência exagerada e a Maya com seu carinho demasiado. Logo de cara, aprendi uma das mais valiosas lições que tenho na vida: pra todo mal que te fizerem, retribua com o bem. Não há maldade que se apodere de um coração puro. E pouco a pouco, inevitavelmente, todos foram se apaixonando por ela. A Maya reconstruiu as relações da nossa casa, me uniu com minha irmã, conciliou minha relação com da minha mãe; ela definitivamente mudou as nossas vidas.

Eu tento não falar dela tanto quanto eu gostaria porque eu sei que nem todas as pessoas tem a capacidade de entender o que eu sinto. E, sinceramente, lamento por elas. É um sentimento tão forte, tão forte, como nunca senti algo parecido na vida. É um desespero de cuidar, de proteger realmente estarrecedor. É uma paz em vê-la acordar todos os dias, em ouvir a pressa de seus passos quando eu chego, em sentir sua alegria em me ver, francamente, inenarrável.

Hoje, eu vou escrever para quem entende o que eu digo, e pra quem infelizmente perdeu cedo demais um grande amigo. Hoje eu vou escrever pra quem aprendeu a amar com quem melhor ensina.

1) Desfaça-se de seu orgulho.

Sabe quando dizem que quanto mais você esnoba, mais o cachorro fica no seu pé? É como se ele não tivesse um pingo de amor próprio. Mas, não, o que ele não tem é qualquer orgulho. O orgulho pode ser destrutivo pra uma relação duradoura porque, se pararmos pra pensar, isso nada mais é do que fazer birra, coisa de gente mimada, sabe? Pense em quantas coisas boas, quantas oportunidades e quantas pessoas você já perdeu porque não quis, simplesmente, dar o braço a torcer. Ter seu ego ferido, às vezes, compensa. Você se conhece, se confronta, se entende. As coisas que você aprende sobre si mesmo e sobre o mundo ao seu redor quando resolve engolir a seco valem a pena. Quem se acha sempre certo, inalcançável, ainda não aprendeu a colher os benefícios de seus percalços. Baixe a guarda, erga o peito, dê a cara à tapa. Você não vai encontrar uma relação que tenha sido bem sucedida sem que um dos dois, ou ambos, tenham posto o orgulho de lado em prol de algo maior. Se doer, tudo bem, porque vai passar.

2) Rancor não te leva a nada.

Se eu brigar com a Maya agora, em 5 minutos ela já vai estar implorando pelo meu carinho de novo. Ela é incapaz de guardar mágoa, incapaz de se ressentir. Ela confia e acredita que qualquer demonstração minha de afeto é verdadeira. Mas o mais importante não é isso: ela me ensinou a não guardar rancor. Quando ela me desobedece e me tira do sério, eu simplesmente não consigo nutrir a raiva por mais que alguns minutos. Não consigo! Eu a amo tanto, mas tanto, que aquilo não vai passar de um minúsculo obstáculo, um pequenino contratempo. Já perdi óculos, sandálias, roupas e até minha carteira de trabalho por conta de sua mania que comer tudo que via pela frente quando era filhote e, nem por um segundo, eu consegui me manter furiosa. Não vale a pena. Por ela, nenhuma mágoa vale a pena. Só consigo lembrar do quanto ela me faz feliz e que se eu tivesse que perder o mundo pra me sentir assim de novo, perderia. Se você puder adequar esse “fator de relevância” em outros aspectos da sua vida, garanto que será muito mais feliz. As adversidades, assim que ocorrem, têm um peso gigante sob nossas costas. Nos sentimos frustrados, cansados, quase injustiçados divinamente, mas respira. Res-pi-ra! O que é um tremendo fardo pra você nesse minuto, amanhã já será passado. Se ater ao que não podemos controlar ou aos empecilhos do dia a dia, de modo a torna-los denominadores de nossas tristezas, é realmente desgastante. Leve a vida leve!

3) Perdoe, acima de todas as coisas.

Eu posso ter acabado de brigar com a Maya, mas se eu chama-la carinhosamente ela já se joga em meus braços. Ela me perdoa até quando eu mesma estou errada. Ela me perdoa sem sequer compreender a nossa diferença nas falhas. Ela me perdoa tão puramente que me pressiono pra ser merecedora desse perdão. Perdoar não é unicamente bom pra quem sente, se livra da mágoa. É um dos poucos sentimentos que bate no outro e reflete. É como diz o ditado “gentileza gera gentileza”, sabe? Quando você pede perdão a alguém é impossível que ela mantenha a guarda suspensa e não se sinta também envergonhada por coisas que fez ou disse. É impossível que ela não pense sobre suas próprias atitudes e, se ela se trabalhar pra engolir o orgulho, vai entender como as desculpas tem poder.

4) Acordar com bom humor.

Pra mim, absolutamente todas as pessoas que se dizem mau humoradas pela manhã ou dizem detestar alegria matutina, além de fazerem questão de aparentar esse estereotipo ranzinza, nunca acordaram ao lado de um cão. Sério. Quando eu sei que meu dia vai ser puxado, difícil ou tenho que acordar muito cedo, é natural que eu me maldiga um pouco. Mas quando eu abro o olho e vejo um ser que só em me ver acordar pula da cama, balança o rabo e me “abraça”, eu não consigo manter qualquer chatice. A Maya todos os dias dá um bom dia desesperadamente feliz pra todo mundo aqui em casa. Ela faz questão de mostrar o quanto esperava que você acordasse por mais um dia, o quanto precisa de você acordado por mais um dia. Ela te dá um incentivo de palestras motivacionais só em se fazer presente com carinhos e mimos ao lado da cama. Não tem pra abuso matinal com um cachorro do lado.

5) Não esperar pra dizer o quanto ama alguém.

Uma das coisas mais legais é você perceber a repetência das atitudes diariamente. Ela não sabe se quando a gente cruza a porta vai ser a última vez que vai nos ver ou se fomos somente deixar o lixo, então, ela não perde tempo em mostrar que nos ama, que vai sentir nossa falta, que já está com saudades. A Maya nasceu sabendo que a vida é curta e imprevisível, que o hoje se torna ontem muito rápido e que somos tão frágeis quanto efêmeros, ela não espera até amanhã pra demonstrar que nos ama. Ela não espera ser necessário, ser eterno. Ela não deixa passar em branco nenhum dia, nenhuma batida na porta. Ela já aprendeu que não pode controlar o tempo e tampouco as pessoas ao seu redor, mas pode fazer com que elas tenham motivos pra voltar.

6) Sabedoria é ouvir e, não, falar.

Às vezes, tudo que você precisa é de alguém que esteja do seu lado. Só isso. Você não quer ouvir “eu te avisei” e nem conselhos infundados. Você apenas quer saber que não está sozinho. E o mesmo serve pra ser com os outros. Ouça, ouça, ouça de novo. É uma característica louvável nos homens, de puro altruísmo das mulheres e de naturalidade dos cães. O conforto que você precisa nem sempre vem das palavras mas, sim, do silêncio.

7) Respeitar as diferenças.

Os animais simplesmente não enxergam-se como desiguais. Não tem essa capacidade de distinção e tampouco a arrogância de se acharem melhores que outras raças. Eles divertem-se com as diferenças, aprendem com elas, não se cobram qualquer competitividade. Eles já sabem que não precisa haver uma explicação – biológica ou moral – para que os outros sejam geneticamente ou opcionalmente diferentes. É natural.

8) Superar-se todos os dias.

Quando ela era bem pequena todos os dias tentava subir na minha cama. Mais de uma vez por dia, inclusive. Eu achava lindo, mas não a ajudava. Eu queria vê-la se esforçar, tentar, cair e tentar de novo. Todo os dias, sem exceção, ela tentou. E quando conseguiu foi obviamente recompensada com a cama quentinha, a minha que se tornou nossa. Ela não se enxergava incapaz, não media racionalmente que seria impossível devido à altura da cama. Ela tentava, simplesmente. E assim, sem que pudesse ouvir que não conseguiria, um dia naturalmente conseguiu.

9) Se nada der certo, faça cara de pena.

Sempre funciona. Aposto como ela pensa “Humanos…pff! Trouxas!”

10) Não somos donos de nada.

"Um cachorro não liga se você é rico ou pobre, estudado ou analfabeto, inteligente ou lerdo. Dê a ele seu coração que ele lhe dará o dele."

Desapegue-se da ideologia de que algo tenha que lhe pertencer. Não tem! Você é um ponto no infinito do universo igualmente insignificante a qualquer outro. O que você diz possuir na sua conta bancária, na sua roda de amigos, no seu apartamento, não representa absolutamente nada perante a magnitude do universo. É simples. Desapegue-se de teus valores materiais e morais na amplitude do que te cerca. Há muita coisa lá fora, há muita gente lá fora. O que quer que você ache que te pertença não passa da tua ínfima visão de mundo. Um cão não é ensinado a andar ao seu lado sem coleira, ele aprende naturalmente porque ele quer ESTAR ao seu lado. Você pode, claro, adestra-lo e se satisfazer na premissa de que ele o tem como dono ou você pode liberta-lo e entender que, na verdade, ele o segue por amor. Não somos donos de nada, nem de ninguém e tampouco há qualquer valor em citar os bens materiais que colecionamos ao longo da vida. O que realmente nos define são aqueles que escolheram nos acompanhar, que conquistamos a fino trato. De graça. Nós só nos tornamos mais que um grão de areia nesse universo que é a vida se formos, de alguma forma, responsáveis por cativar alguém.

Samantha Silvany