Outro dia me deparei com um poeminha de Maria Silva que dizia mais ou menos isso: “Nunca toque numa vida se não pretende romper um coração…”, e as palavras preencheram meu pensamento, me levaram para outras épocas, outros tempos em que eu mesma não tomava cuidado com as vidas que tocava.
Muito além das palavras de Saint-Exupéry, que dizia que somos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos, acredito que é preciso ter cuidado com as vidas que tocamos.
Porque o amor é um terreno frágil, e não pode ser pisado com displicência. Ao contrário, por respeito, requer constante licença.
Há que se ter cuidado com o coração do outro. Não chegar para somar se o que a gente quer é sumir. Não chegar para corresponder se o que a gente deseja é se esconder. Não se aproximar para amar se no fundo a gente quer é abandonar.
O amor precisa de clareza. De gestos delicados que demonstrem a verdade do que sentimos e de certezas que evidenciem se é mesmo pra valer.
Ninguém está livre de se apaixonar e não ser correspondido. Porém, muitas vezes, algumas vidas são tocadas com a simples intenção de despertar sentimentos, e não de fazer valer a pena.
O mundo está cheio de gente confusa. Gente que diz que ama mas prefere ficar sozinho. Gente que num dia lhe manda flores e no outro não responde as mensagens no WhatsApp. Gente que tira a sua paz e não dá a mínima pra falta que faz.
Ninguém sabe ao certo o que vai dentro do coração do outro. Mas a gente sabe o que vai dentro do coração da gente. E por mais difícil que seja, é preciso dar clareza. Por mais duro que pareça, é preciso ser certeza.
Não adie seus planos e seja firme para evitar enganos.
Nem sempre é possível evitar que alguém se machuque ou se confunda com a gente. Nem sempre é possível pedir para alguém não se apaixonar porque não pretendemos fazer o mesmo. Porém, é possível não alimentar carências, desejos e esperanças com falsos juramentos. É possível não jogar com os sentimentos verdadeiros de alguém. É possível colocar os “pingos nos is” pra não prolongar o sofrimento. É possível ser presença para evitar reticência.
Não há nada que se compare com um coração em compasso de espera. Um coração que só enxerga pontos de interrogação e não encontra coerência nas peças soltas de sua história. Fica tudo parecendo um enorme quebra cabeça cujas peças não se encaixam, uma história confusa onde não há lógica entre o que foi dito e o que foi realizado. Fica faltando nexo, entende?
Que sejamos claros e cuidadosos. Claros no querer ou não querer, no amar ou não amar, no ficar ou se afastar. Cuidadosos ao tocar uma vida, cuidadosos ao demonstrar o que sentimos, cuidadosos ao soprar esperança num coração.
E que não nos falte reciprocidade, pois o bom da vida é amar e ser amado, e não brincar de esconde esconde, pega pega ou cabo de guerra. O bom da vida é viver com transparência, e não ter dúvidas diante de um quebra cabeça sem coerência. O bom da vida é encontrar quem tenha certeza a nosso respeito, e não nos obrigue a viver cheios de suposições. O bom da vida é querer e ser querido, sem jogos de adivinhações…