SHARITHA

 
registro: 14/07/2008
NAO tenho paciência pra mimimi ,nem tempo pra bla...bla...bla..DESCULPE-ME....????
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76 dias h

Um amor sob medida

Aos poucos, bem aos poucos, a gente vai entendendo o que nos cabe. Independente da ditadura da moda, vamos descobrindo nosso estilo: clássica, hippie, ousada, desencanada. E vamos conhecendo o corpo que temos, aceitando aquilo que nos foi reservado.
Mas antes disso erramos muito, erramos feio. Quem nunca se deparou com uma foto antiga, e sorriu ao perceber a inadequação? Eu mesma posso lembrar as vezes em que arrisquei um modelo “tomara que caia” num corpo desprovido de estrutura, e mais parecia um menino usando a roupa da irmã num desfile de carnaval.Uma roupa que cai bem é como uma relacionamento que dá certo. As peças combinam, há correspondência mútua, existe reciprocidade.

O contrário, porém, é o desencaixe. A calça não entra, fica parada no meio da coxa e a gente dá uns pulinhos pra ver se ela sobe. A danada sobe um pouquinho, o zíper esgarça para baixo e deitamos na cama para tentar um pouco mais. Ela finalmente entra, o botão belisca a pele para fechar, as gordurinhas pulam para fora na altura do cós. Está evidente que a calça não nos cabe, que não aceita o corpo que a habita, que quer ser feliz em outro canto. Mas a gente insiste, faz a coitada caber na marra, até estraga o tecido em nome desse enlace desastroso. Assim também num relacionamento sem reciprocidade.

É aos poucos que a gente aprende a amar direito. E a dar valor àquilo que nos foi reservado. Sem olhar para os lados e desejar o jeans skinny que não entra em nosso corpo robusto, mas aceitando a pantalona larguinha que valoriza nosso charme exclusivo.

Nem sempre a gente enxerga o amor onde existe reciprocidade. E preferimos ciscar em terreiros que não nos aceitam por completo a nos assumirmos merecedores de um amor real e possível. Quantas vezes recusamos a atenção verdadeira em nome de uma ilusão passageira?

Chega uma hora em que temos que amadurecer. E junto amadurecer nossas expectativas em relação ao amor. Descobrindo que amor sob medida é amor sem medida _ correspondido, revidado, validado, mútuo, recíproco. Amor que fica porque quer ficar, que doa porque quer se doar, que se expressa porque quer se expressar. Amor que não precisa de três pulinhos pra entrar nem de bojo pra ficar.

Só o tempo mostra o que deve permanecer de fato. As mãos que se entrelaçam por vontade, o aceno diário no portão, as últimas chamadas no celular, a mensagem respondida com atenção, o olhar que denuncia a importância, o gesto que confirma a relevância, o “querer estar preso por vontade”, a falta doída da saudade.

E descobrimos que amor bom é amor recíproco. Um amor sob medida que é do nosso tamanho, e nos cabe enfim. E paramos de sonhar de olhos abertos, desejando quem não nos deseja, almejando o que não é possível alcançar, tendo esperanças em migalhas que jamais irão se concretizar.

Aprendemos enfim que prestar atenção é de grande valia para os assuntos do coração. E que reconhecer o amor só se aprende com o tempo. Dando o devido merecimento ao que deve ser reverenciado, e deixando de lado o que não nos serve de bom grado.

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