la_nino

 
registro: 08/07/2008
por ai
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A FÁBULA DA ÁGUIA E DA GALINHA

Esta é uma história que vem de um pequeno país da África Ocidental, Gana, narrada por um educador popular, James Aggrey.

 

"Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro, a fim de mantê-lo cativo em casa. Conseguiu pegar um filhote de águia.

 

Colocou-o no galinheiro junto às galinhas. Cresceu como uma galinha.

 

Depois de cinco anos, esse homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista.

Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:

 

- Esse pássaro aí não é uma galinha. É uma águia.

 

- De fato, disse o homem.- É uma águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais águia. É uma galinha como as outras.

 

- Não, retrucou o naturalista.- Ela é e será sempre uma águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.

 

- Não, insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.

 

Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e, desafiando-a, disse:

 

- Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!

 

A águia ficou sentada sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.

 

 O camponês comentou:

 

- Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!

 

- Não, tornou a insistir o naturalista. - Ela é uma águia. E uma águia sempre será uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.

 

No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa.

 

Sussurrou-lhe:

 

- Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!

 

Mas, quando a águia viu lá embaixo as galinhas ciscando o chão, pulou e foi parar junto delas.

 

O camponês sorriu e voltou a carga:

 

- Eu havia lhe dito, ela virou galinha!

 

- Não, respondeu firmemente o naturalista. - Ela é águia e possui sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.

 

No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a  águia, levaram-na para o alto de uma montanha. O sol estava nascendo e
dourava os picos das montanhas.

 

O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:

 

- Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!

 

A águia olhou ao redor. Tremia, como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então, o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, de sorte que seus olhos pudessem se encher de claridade e ganhar as dimensões do vasto horizonte.

 

Foi quando ela abriu suas potentes asas.

 

Ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto e voar cada vez mais para o alto.

 

Voou. E nunca mais retornou."

 

Existem pessoas que nos fazem pensar como galinhas. E ainda até pensamos
que somos efetivamente galinhas. Porém é preciso ser águia. Abrir as asas e voar. Voar como as águias. E jamais se contentar com os grãos que jogam aos pés para ciscar.”  

 

Extraído de artigo publicado pela Folha de São Paulo, por Leonardo Boff, teólogo, escritor e professor de ética da UERJ.