lombrah

 
registro: 14/02/2009
Tudo que nao me mata me fortalece.
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Último jogo

Vicio Espiritual

Meu lado Espiritual


       Na psique humana, é profundo inexorável anseio por algo além do mundano ou do explicável. Ele nasce da necessidade de se dar sentido à existência, de encontrar algo maior do que nós mesmos. E também decorre do anseio de pertencer, de viver da vida segundo uma interação harmoniosa com os outros, com a natureza, com
Deus, com o Universo. Antigamente, essa interação era parte da condição humana.

       

       Nas sociedades caçadoras-coletoras, a crença religiosa estava sempre ligada à natureza. Defrontadas com perigos constantes, as pessoas buscavam maneira de viver em harmonia com o ambiente imprevisível cultuado a terra, seus elementos e seus animais selvagens. A vida era trespassada pela espiritualidade. Com o crescimento da tradição judaico-cristã, os poderes psi passaram a ser vistos como divinos ou então como demoníacos. Mas permaneceram alguns bolsões da antiga ordem, que ainda hoje em dia resistem nas religiões orientais e em culturas que no Ocidente costumam ser consideradas prejudicadas pela superstição, como as comunidades de caminhantes aborígenes, de xamãs da Mongólia e da Amazônia, dos encantadores de tubarões do Pacifico Sul e dos curandeiros africanos. Muitos exploradores com quem conversei foram criados por pais religiosos e, na adolescência, se afastaram de suas igrejas. Essa apostasia muitas vezes deixa aquilo que Jean-Paul Sartre chamava de “buraco em formato de Deus”. A fome espiritual é epidêmica em nossa sociedade. Isso se evidencia
no florescimento do movimento da Nova Era, no interesse a elas religiões orientais e, talvez, no número de cada vez maior de pessoas que escolhe para sua “recriação” ir em busca da natureza e se abrir ao seu poder.

 

“O Deus da minha infância não é o Deus de que falo agora”, diz Stephen Koch, um atleta do montanhismo e das acrobacias aéreas, criado como católico.

 

“Não é esse o Deus que eu sinto. Meu Deus é a beleza da natureza. É a terra em seu estado mais natural, não maculada pelo homem. Você ainda pode encontrar isso nas montanhas, nos oceanos, no deserto. Esses são os lugares onde experimento o mais profundo sentimento de paz”.

 

        O esportista radical maioria se considera pessoas profundamente independentes, construindo caminhos de vida bastante incomuns. Assim, não surpreende que sua espiritualidade seja geral muito particular, idiossincrática, inextricavelmente vinculada à natureza e às situações que vivenciam ali.

 

“Estar em picos elevados me faz sentir em intimidade com o infinito”, diz Pete Athans, que escala o Everest.

 

“Lá me sinto mais em contato com a natureza. Mais vivo. Não acho que os escaladores sejam somente um bando eclético de desajustados. De diversas maneiras, penso que somos os portadores da tocha de um relacionamento com o mundo natural. Assim como eu muitos estão insatisfeitos com a religião ocidental contemporânea, e então nós a substituímos com a nossa espécie de fé”.

       

       A dificuldade de falarmos e exemplificar, provar empiricamente o que é de fato é muito grande, não tendo uma filosofia que lhes servisse de base. Se não conseguimos encontrar um nome para alguma coisa, é difícil para nós aceitar que isso realmente exista.

 

“Com as nossas loucuras, o que estamos fazendo, sem pretender fazê-lo de fato, é criar uma espécie de religião, Uma religião incoerente, em que os adeptos reúnem os elementos de qualquer jeito, mas mesmo assim uma religião... as ligações que fazemos ali são completamente abençoadas, são religiosas no sentido mais profundo do termo.”

 

       Em 1997, Elliot descobriu as delicias de praticar Snowboarding (Alma deslizando) na neve solta. No mesmo instante, ele ficou “vidrado” na atividade e intrigado com o termo – a que se referia de “alma”? Ninguém era
capaz de lhe dizer, então ele começou a própria pesquisa, que levou ao seu doutorado sobre a espiritualidade do Snowboarding.

 

        Elliot na neve solta começou, com outros amigos, ele ria e gritava de excitação, conforme os borrifos finos de neve formavam nuvens à sua volta, inundadas de luz resplandecente. Depois sobreveio a calma. Desapareceu a sensação de se virar o tempo todo, de fazer qualquer esforço. Completamente focado no ato de estar equilibrado sobre a prancha, consciente de cada nuance da neve e da sua prancha, ele se desligou, como se a prancha estivesse se guiando sozinha e levando-o a bordo, como seu passageiro.

 

“De repente, estava tudo Fluindo”, ele se lembra. “Eu estava ao mesmo tempo dentro e fora do tempo. Lá e não lá. Era apenas puro ser... Naquele momento, eu estava muito perto de Deus. Esses episódios são a essência da experiência da alma deslizando, eles acontecem como uma dádiva de Deus.” Elliot chama esses momentos de “experiências espirituais naturais”.

 

        Segundo ele, no passado a maioria das pessoas teria precisado interpretar essas experiências segundo algum tipo de referencial religioso. Elliot ainda precisa. Ele acredita em um Deus pessoal que “quer se dar e se revelar a toda humanidade, de varias maneiras”. A alma deslizando é uma delas. Mas ele admite um interesse cada vez maior pelo que chama de “espiritualidade não institucional”, livre da égide de uma igreja, para a qual as pessoas contribuem com suas concepções e crença com base em uma multiplicidade de tradições, e em que a espiritualidade está associada com a ação e os riscos de atividades no ar livre. Então, como é que Elliot está em relação à sua busca de uma linguagem para essa nova espiritualidade, em particular para aqueles momentos “fora do tempo” que ele experimenta quando faz Snowboarding? Diante dessa pergunta, ele ri com certo pesar. “Uma parte de mim quer dizer que isso é tão sagrado que nem deveríamos tentar lhe dar um nome.”

 

         De todos os esportistas radicais, os surfistas são os que chegam mais perto de uma linguagem comum para o aspecto espiritual de seu esporte e têm mais facilidade em emprega-la. Muitos se referem ao mar como “Mãe Oceano”. Sem constrangimento, falam do “surfar com a alma”. William Finnegan escreve sobre provar, nas ondas grandes, “a sensação intensa de um vasto incognoscível projeto” e se refere aos lugares onde surfou como “estações em uma peregrinação em etapas curtas que se enovelam... uma longa busca, através de um mundo destruído, por fragmentos de uma bem-aventurança perdida”.

 

 

        Mark Fawcett, profissional de Kitesurf, sente que algum poder maior deve ter deliberadamente criado o local perfeito em termos de ondas oportunidades por onde passa, no mundo todo.

 

“Simplesmente, é coincidência de mais que tudo tenha acontecido por acaso. Toda vez que saio da agua, sinto uma imensa gratidão por esse poder, qualquer que ele seja. Você vai ter um monte de surfistas dizendo a mesma coisa, que sair todo dia de manha e entrar na agua e se tornar parte dela, fluindo com ela, é a igreja para eles. É uma coisa linda, muito linda.” (Maria Coffer  - P 19, 23)

 

Do livro: Descobridores do Infinito - Autor: Maria Coffey